domingo, 6 de novembro de 2011

Problemas naturalmente humanos

Repetições. Geralmente as quero quando representam algo bom em minha vida. Um momento alegre e especial; um dia que ficou marcado. Isto é, quando quero que algo se repita em minha rotina é porque isso gera bons efeitos em mim e eu me sinto bem. Porém, se o contrário acontece, logo percebo que algo está errado. Uma repetição, em um local fisicamente distante de mim, mas relativamente importante sentimental por ser uma cidade do meu pais e por envolver pessoas da minha mesma espécie, me preocupa ano após ano.
Mortes, destruições, paralização dos serviços públicos de transporte e de educação, e caos no serviços de saúde; pessoas desabrigadas. Essa é a realidade do Rio anualmente em seu periodo de chuvas intensas. Uma realidade que se repete há várias décadas, tendo sido retratada por Drummond, em uma de suas crônicas, já em 1966, na qual afirmou que "não há alegria para a crônica, nem lhe resta outro sentido senão o triste registro da fragilidade imensa da rica, poderosa e martirizada cidade do Rio de Janeiro".

Fragilidade criada pelo próprio homem que tenta aliviar as suas consequências culpando inteira e exclusivamente a natureza por todos os prejuízos causados. A chuva não é, e nunca será o problema; a deficiência está na nossa realidade e em nossa mentalidade de aceitar que pessoas iguais a nós vivam em condições de vida precárias na periferia e em morros
cariocas. Também está na nossa teimosia de querer tomar tudo o que encontra-se na natureza e de querer implantar nossas construções em todos os lugares, possíveis e "impossíveis", sem nos preocuparmos com as consequências trazidas a nós e ao nosso próximo.

"Castigos de Deus" não duram tanto tempo; a negligência e a indiferença humana sim. Por isso, tristes realidades como essa continuarão a se repetir enquanto o nosso umbigo for o único centro de nossas atenções.

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