
Da destruição surge a beleza. O renascimento de algo considerado morto. É isso o que nos prova o artista plástico polonês Frans Krajcberg.
Frans, agora com 88 anos, já passou por muita coisa em sua vida. Atravessou duas guerras. Perdeu toda a sua familia. E chegou ao Brasil em 1950, fugindo do holocausto. Fugindo da guerra se deparou com outro problema: a destruição da floresta. Aqui, logo quando chegou, começo a lutar contra a devastação. Nos quase sessenta anos que está no Brasil, já denunciou queimadas no Paraná, a exploração de minérios em Minas Gerais, o desmatamento da Amazônia e defendeu as tartarugas de Nova Viçosa, cidade do sul da Bahia onde atualmente mora. Além disso, também ficou na frente de um trator para evitar a construção de uma avenida em sua cidade. Um exemplo de luta em ajuda ao meio-ambiente.
Depois da guerra e com sua chegada ao Brasil, Frans se escondeu, no ínicio, nas motanhas. O artista vivia sem conforto, a barba por fazer, tomava banho no rio e trabalhava sem parar. "Eu não suportava viver depois da guerra. Foi muito brutal para mim. Fiquei sozinho no mundo. Toda a minha família foi morta. Não tenho parente, não tenho nada." Mas independente de tudo o que passou encontrou sua felicidade quando conheceu a natureza brasileira. "Ela me salvou. Sorria para mim e nunca perguntava de onde eu vinha ou que religião eu tinha. Foi quando descobri a vida."Frans vive há 30 anos em uma casa feita sobre um tronco de pequi, a 7 metros do chão, em seu sítio a beira-mar em Nova Viçosa. Em um lugar ladeado por mangues e Mata Atlântica, o artista cita a importância de aproveitar o instante e saber olhar para as coisas. "Um dia nunca é igual ao outro", diz.
Krajcberg se tornou conhecido mundo afora ao modelar árvores derrubadas, troncos e galhos aparentemente sem vida, que juntamente com sua critividade e habilidade, renascem em belas esculturas. Suas esculturas mostram que por mais que o homem a destrua, a natureza nunca está morta. "Quero que minha obras sejam um reflexo das queimadas. Por isso, uso as mesmas cores: vermelho e preto, fogo e morte", diz ele em protesto do que chama de barbárie do homem contra o homem e do homem contra a natureza.
Em relação à arte, o artista diz que a missão dela é acompanhar a evolução do homem e se não faz isso está servindo apenas ao comércio. "A arte como conhecemos hoje, é feita para o mercado. Não se fala em estilo, linguagem, mas apenas em valor."

Um amante da fotografia, Frans acorda cedo em seu sitio e sai fotografando flores. "É a fotografia que está nos apresentando a degradação ambiental da Terra. É algo que o cinema, por exemplo não fez. Nem a pintura.", diz. Tanto é verdade, que vemos vários fotográfos dedicando muitos trabalhos especialmente ao desmatamento da Amazônia, como o fotografo Rodrigo Baleia, Adriano Gambarini, entre outros. "O que temos hoje? Uma revolução tecnocientífica, um vazio político absoluto e, pela primeira vez na história, uma preocupação com a saúde do planeta. Esse é o tema urgente do século 21, mas até agora esquecido pela arte. A única arte sintonizada com ele é a fotografia."
O tipo de arte feito por Frans e sua dedicação com relação às floresta - não apenas em relação a vegetação, mas também aos índios e a cultura que encontramos nas regiões atingidas pelo desmatamento - pode ser explicado por dois acontecimentos marcantes de sua vida. Antes de chegar ao Brasil, Frans lutou durante quatro anos e meio como oficial do exército durante a guerra. Quando chegou a Polônia com o exército russo, libertou um campo de concentração cheio de húngaros. Mas entrando no campo, viu três motanhas de lixo: "eram homens empilhados para serem queimados no crematório", conta ele. Anos depois, já no Brasil e viajando pela Amazônia, no alto do rio Juruema, no Mato Grosso, ele observou nuvens de urubus. "Aproximei-se com o barco, entrei na floresta, fechei os olhos e fiz uma foto. Eu jamais havia visto cena tão bárbara: seis índios pendurados numa árvore, com centenas de urubus ao redor. Fiz a foto com os olhos fechados."
Diante de tais acontecimentos, vemos que Frans encontrou em sua arte - que usa restos de árvores de locais que foram queimados e desmatados - um modo de se expressar. Em uma entrevista ele disse: "Com tudo que aconteceu diante de mim, que tipo de arte me resta fazer? Pintar flores para senhoras? Ou mostrar esse barbaridade, essa destruição, de modo a alertar sobre a salvação de uma floresta, a Amazônia, de que o planeta tanto precisa? Ela está sendo destruida como fizeram com a Mata Atlântica!".
Entrando agora no assunto pelo qual Frans mais luta - a preservação das florestas - percebemos como o artista é lutador e corajoso. Com suas esculturas ele mostra a realidade de nossas florestas, dos índios e dos problemas ambientais, tão discutidos atualmente. Mas com relação a essa crescente discussão ele esclarece: "O ambientalismo é uma moda, uma tendência. O conceito agora é: salvar a natureza mas também explorá-la. Investidores estrangeiros estão comprando terras na Amazônia com objetivos desconhecidos. Ninguém questiona. Este é o ponto sempre: lucrar individualmente. O país vai ser destruido ao plantar soja transgênica para vender à China para ela alimentar porcos enquanto nosso povo tem fome. É justo isso?"

A destruição e a exploração do planeta chegou a um ponto extremo, que não dá mais para continuar. Não podemos mais viver baseados no sistema vigente de compre, descarte, compre outro novo; explore ao máximo e polua sem ver as consequências. Esse é um sistema falido. Segundo Frans, " o homem deve parar de explorar petróleo, de aquecer a atmosfera, antes que seja tardes de mais". É uma verdade. Por mais que ela seja dura. "O planeta Terra está na UTI. A temperatura está aumentando", completa ele.
Outro grande problema atualmente também é com relação aos índios. Nós roubamos os lugares onde eles viviam, estamos destruindo os que ainda restam e já destruimos grande parte de suas culturas. E Frans está muito correto em dizer que "geralmente esquecemos de que nas florestas existem brasileiros, cidadãos que são queimados, desalojados, excluídos. Em Porto Velho, em Rondônia," - conta ele - "vi índios morando na rua, pedindo esmolas, por que foram desalojados de sua terra. Precisamos deixar os índios viverem a vida deles, sem interferência. Eles são os habitantes legítimos desse país."
Frans Krajcberg, uma pessoa que mesmo passando por tudo que passou, não desanimou de viver e descobriu algo muito mais importante: ajudar sempre! Não importa que seja uma planta, um animal ou uma pessoa. Todos tem a mesma importância no nosso grandioso planeta Azul.

Referência: Revista National Geographic Brasil - Seção "Vozes" (Edição 106 - Janeiro de 2009)
Site Planeta Sustentável
Notícias e reportagens sobre Frans Krajcberg:
Frans Krajcberg ganha Pavilhão no Parque do Carmo
A morte na vida e na arte
Frans Krajcberg: revolta em forma de arte
Frans Krajcberg critica o vazio artístico
Frans Krajcberg: natureza inquieta (Reportagem da National Geographic, disponibilizada no site Planeta Sustentável)
Frans só tenho a lhe agradecer...me falta palavras.Só lamento que não tenho mais aquela foto que tiramos ai no sitio,mas em breve vou ai....
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